O presidente do grupo de usuários do SAP no Reino Unido e Irlanda, que está deixando o cargo, pede ao SAP que reconstrua a confiança e trace um caminho para inovar o S/4Hana para aqueles que utilizam o ERP localmente.

Em seu discurso de abertura no início da conferência anual Connect23 do Grupo de Usuários SAP do Reino Unido e Irlanda, o presidente Paul Cooper falou sobre a quebra de confiança com o SAP.

Cooper referiu-se a uma mudança na política de manutenção da SAP, revelada pelo CEO Christian Klein durante a segunda teleconferência de resultados trimestrais da empresa, que posicionou o Rise como a “oferta principal” da empresa.

Klein afirmou que essa mudança ajudaria os clientes a migrarem para a nuvem e transformarem seus processos de negócios ao mesmo tempo. Na prática, os clientes só receberiam funcionalidades avançadas, como um novo livro-razão verde para gerenciar cadeias de abastecimento sustentáveis e inteligência artificial generativa, se adotassem o SAP Rise, a oferta de ERP em nuvem da empresa.

Cooper disse: “Os clientes on-premise e hospedados estão insatisfeitos, para dizer o mínimo, com a declaração de Christian Klein de que a SAP só lançará novas inovações na nuvem. Isso não é uma pequena minoria de clientes. Nossa última pesquisa com os membros mostra que 79% daqueles que migraram para o S/4Hana têm uma implantação on-premise ou hospedada. Dos que planejam migrar para o S/4Hana, 70% planejam fazer implantações on-premise ou hospedadas.”

Cooper discutiu uma reviravolta nos planos da SAP. Ele acrescentou que, em 2020, o membro do conselho executivo da SAP, Thomas Saueressig, disse que os clientes teriam a opção entre implantações em nuvem e on-premise.

“Foi-nos dito que a SAP acreditava em um futuro híbrido. No entanto, o Sr. Saueressig não disse uma vez sequer que as implantações em nuvem vinham com inovação completa, enquanto outras variantes do S/4HANA não”, acrescentou Cooper.

“Também nos disseram que o S/4HANA seria suportado até 2040. Não houve ressalvas de que grandes inovações seriam entregues apenas aos clientes de nuvem pública e privada usando RISE ou Grow. Por que a SAP não nos disse que a nova inovação só estaria disponível para clientes de nuvem? Eles não acharam importante no nosso processo de tomada de decisão?

“São essas as perguntas que nossos membros estão fazendo. Ouvi os mais cínicos sugerirem que a SAP não divulgou essa estratégia antes porque os clientes que escolhessem ficar on-premise talvez nem fizessem a migração para o S/4Hana.”

Cooper descreveu a situação como levando a um “futuro sem inovação” para as organizações que continuam a pagar pela manutenção das versões on-premise ou hospedadas do S/4Hana. Isso pode levar alguns a optar por diferentes contratos de manutenção de software, como o uso de um provedor de terceiros.

Ele acrescentou: “Já ouvi clientes on-premise e hospedados sugerirem que esperam ver reduções em larga escala nos custos de suporte e manutenção, pois estão executando uma versão inferior do S/4Hana. Posso entender o ponto deles – certamente um produto com menos recursos custa menos para suportar e manter. Outros estão perguntando se a SAP pretende reembolsá-los parcial ou integralmente, pois não estão fornecendo o produto ou serviço que foi prometido.”

Alguns clientes de longa data da SAP não conseguem migrar para a oferta exclusivamente em nuvem da empresa de ERP. A AstraZeneca está iniciando uma grande implementação do S/4Hana, enquanto passa por um grande programa de transformação de TI chamado Axial.

Isso verá a empresa consolidar sete sistemas financeiros e de manufatura SAP ECC (Enterprise Core Components) em um único ERP central SAP S/4Hana, combinado com três sistemas regionais de gerenciamento de armazéns SAP.

Falando na sessão de abertura do Connect23, Russell Smith, vice-presidente de tecnologia de transformação ERP na AstraZeneca, disse: “Não somos clientes da Rise. Para indústrias regulamentadas, a SAP ainda não está pronta para nós.”

Durante a apresentação de abertura no Connect23, o novo diretor administrativo da SAP no Reino Unido e Irlanda, Ryan Poggi, discutiu “o elefante na sala” da estratégia de nuvem da SAP, que se trata de garantir que os clientes não fiquem para trás. Em defesa da estratégia, Poggi falou sobre a guerra na Ucrânia e outros desafios que as empresas enfrentam atualmente.

Ele disse: “Vocês esperam de nós como parceiros que estejamos um passo à frente e desafiemos o status quo quando acreditamos, em conjunto, que não estamos atingindo nosso potencial.”

Mas, com recursos finitos, ele enfatizou que a SAP precisa equilibrar o suporte aos clientes enquanto permanece na vanguarda da inovação tecnológica, como a implementação de inteligência artificial generativa, que, segundo ele, requer recursos em nuvem.

“Meu compromisso é continuar a ter comunicações transparentes. Nossa porta está sempre aberta”, acrescentou, chamando os delegados para uma discussão aberta com a SAP para ajudar a criar uma base de confiança.